O amor está no ar. E que tal dizer a seu amor o que sente por ela com essa linda história de amor?!
POESIA MATEMÁTICA
Às folhas tantas
do Livro Matemático
um Quociente
apaixonou-se um dia,
doidamente,
por uma linda
incógnita.
Olhou-a com seu
olhar inumerável
e viu-a do ápice à
base
uma figura ímpar.
Olhos Rombóides!
Boca Trapezóide!
Corpo Retangular!
Seios Esferóides!
Fez da sua uma
vida paralela à dela,
até que se
encontraram no infinito.-
“Quem és tu?”
indagou ele
em ânsia radical.
“Sou a soma do
quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar
de hipotenusa.”
E de falarem,
descobriram que eram,
(o que em
aritmética corresponde a almas
irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da
velocidade da luz,
numa sexta
potenciação,
traçando
ao sabor do
momento
e da paixão,
retas, curvas,
círculos e linhas sinoidais,
nos jardins da
quarta dimensão.
Escandalizaram os
ortodoxos das
formas euclidiana
E os exegetas do
Universo Finito.
Romperam
convenções newtonianas e
pitagóricas.
E enfim resolveram
se casar,
construir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para
padrinhos
o Poliedro e a
Bissetriz.
E fizeram planos,
equações e diagramas
para o futuro
sonhando com uma
felicidade
integral e
diferencial.
E se casaram e
tiveram uma secante
e três cones
muito
engraçadinhos.
E foram felizes
até que um dia,
em que tudo vira
afinal
monotonia.
Foi então que
surgiu
O Maximo Divisor
Comum,
freqüentador de
círculos concêntricos,
viciosos,
Ofereceu-lhe, a
ela,
uma grandeza
absoluta
e reduziu-a a um
denominador comum.
Ele, quociente,
percebeu que com ela
já não mais
formava um todo, uma
unidade,
Era o triângulo,
Tanto chamado
amoroso.
Desse problema ela
era uma fração
a mais ordinária.
Mas foi então que
Einstein descobriu a
Relatividade
e tudo que era
espúrio passou a ser
moralidade
como, aliás, em
qualquer
sociedade.
Millôr Fernandes
Texto extraído do
livro “Tempo e Contratempo”, Edições O Cruzeiro – Rio de Janeiro,
1954, pág. sem
número, publicado com o pseudônimo de Vão Goge